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  • José Tabacow

A glória de Bolívar

Atualizado: 19 de mai. de 2020


Da Série "Causos Paisagísticos"

(criação original de Eduardo Barra)

:

A América do Sul preparava-se para as comemorações do sesquicentenário da morte de Simon Bolívar . O auge das homenagens seria a inauguração de um parque e museu no local onde se desenrolou a Batalha de Ayacucho, no altiplano peruano. Cada Govêrno oferecia um presente para o evento. O brasileiro resolveu doar um projeto de paisagismo de Roberto Burle Marx. O paisagista propôs uma troca: o projeto por uma excursão de coleta de plantas na Amazônia peruana.

Acertados os detalhes, a primeira providência era uma visita ao local histórico.

Para tanto, haveria uma reunião preparatória, com todos os envolvidos.

Na manhã da partida, porém, alguém do Ministério das Relações Exteriores, não encontrando Roberto no escritório, deixou um recado urgente: ele não deveria viajar, pois o Brasil não foi convidado para os festejos, sob a alegação que era um país de língua “não espanhola”. Assim, o Governo Brasileiro decidira cancelar a participação e o presente. Como já estávamos de posse das passagens aéreas e passaportes de serviço do Itamaraty, Burle Marx decidiu ignorar o tal recado.

- Pelo menos fazemos nossa excursão à Amazônia! Disse, já antevendo filodendros, antúrios, lindas helicônias, fantásticas marantas,...

Ao chegarmos no Aeroporto de Lima, um carro da Embaixada do Brasil nos esperava na pista, ao pé da escada do avião. Fomos levados diretamente à Embaixada, onde o embaixador nos passou a maior reprimenda por não havermos atendido às instruções do Itamaraty. O irado discurso terminou com a comunicação de que ficaríamos confinados na Embaixada, enquanto estivéssemos em solo peruano:

- O Senhor é uma pessoa conhecida. O Governo não quer que o Sr. seja visto por aqui!

Da Embaixada, só podíamos sair diretamente para o Aeroporto Internacional de Lima. Roberto ainda argumentou:

- Mas... e a nossa excursão à Amazônia?

- Só será possível daqui a oito dias, quando acabar a reunião preparatória. Foi a sêca resposta.

Voltamos para o Brasil na manhã seguinte. Sem filodendros, antúrios, lindas helicônias, fantásticas marantas...


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