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Prova de AutoCAD

Da Série Causos Acadêmicos:

Quando comecei a lecionar na UNISUL (Universidade do Sul de Santa Catarina), em Tubarão, assumi, além das disciplinas de paisagismo, a de computação gráfica. Na época o AutoCAD era o software adotado. As aulas e as provas da disciplina eram realizadas no Laboratório de Informática.

Na primeira prova da turma, tudo transcorreu aparentemente de forma normal. Era um desenho muito simples, uma planta baixa e um corte transversal numa residência. Trouxe as provas num diskette – ainda não havia pendrive – para fazer a correção em casa.

Comecei pela prova da melhor aluna da turma. Acho que era Denise o nome dela. Como esperado, o trabalho estava perfeito, a não ser por um detalhe: no corte, sobrou um pequeno segmento de reta esquecido junto ao ponto do telhado. Mas eu relevei. O trabalho estava bem feito e eu dei a nota máxima. Segui com meu trabalho. De repente, olho no corte de uma prova e lá está um pequeno segmento de reta. Do mesmo tamanho, da mesma cor e na mesma posição! Que coincidência, não? Na hora não me liguei e prossegui. Outra prova, outra vez o segmento de reta! Aí não! Era demais! Resolvi investigar a questão: abri um desenho novo, em branco e inseri os trabalhos de todos os alunos.

Para os leigos: o AutoCAd permite que se insira desenhos dentro de outros desenhos. O programa tem coordenadas com até oito casas decimais. Geralmente, o aluno começa seu desenho em qualquer ponto da área gráfica. É impossível, estatisticamente, que duas pessoas comecem desenhos nas mesmas coordenadas, numa “folha” em branco.

Quando acabei as inserções, havia alguns desenhos espalhados a esmo pela área gráfica. Correspondiam aos alunos que fizeram suas provas de forma independente. Mas havia três grupos com vários desenhos caindo rigorosamente um por cima do outro. Eles colaram! Mas como? E aí me veio o estalo de Vieira(*): Eles haviam usado a rede de computadores do Laboratório para importar desenhos completos de colegas que já haviam terminado a prova, de um computador ao outro!

Logo no início da aula seguinte, alguém me perguntou pelas notas das provas.

- Sim, trouxe. Vou ler para vocês: a turma da Denise tirou 10! Mas como eram sete alunos, cada um vai ficar com 1,4. A turma da Liliane também tirou 10. Como eram seis alunos, cada um fica com 1,7. A turma do André...Nesse ponto me interrompem:

- Professor? Como é isso de turma da Denise, turma da Liliane? Não estamos entendendo?

- É que a prova era individual! Vocês, mesmo sabendo disso, fizeram juntos! Por isso, a nota tem que ser distribuída pelo número de participantes em cada equipe.

Bem, o que eles falaram não deu mais para entender, pois seguiu-se uma algaravia(**). Mas pelos tons das vozes, deu para perceber que não ficaram nem um pouquinho satisfeitos!

Passada a comoção, vieram me pedir desculpas e uma nova chance. Anulei aquela prova e realizei outra. Isso foi em 2003 ou 2004. Até hoje, muitos daqueles alunos continuam meus amigos no Facebook.

(*) Não lembrava desta expressão por muitas décadas. Meus amigos mais antigos devem conhecer. Os mais jovens não, porque caiu em desuso. Significa uma percepção repentina de alguma questão difícil ou misteriosa. As origens... ah! Vá ao Google!

(**) Nossa! Outro termo em desuso! O que há comigo? Significa ‘confusão de vozes’.

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